Donald Trump, presidente dos EUA, eleva tom sobre Groenlândia, gerando atrito com a Dinamarca, que limita visitas americanas ao território.
Escalada de Tensões entre EUA e Dinamarca
Em um pronunciamento recente, Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos, voltou a afirmar sua determinação em assumir o controle da Groenlândia, território autônomo pertencente à Dinamarca. “Odeio dizer assim, mas vamos ficar com ela”, declarou Trump em um discurso no Capitólio em março de 2025, intensificando um debate que já havia causado controvérsia durante seu primeiro mandato. A retórica agressiva do líder americano reacendeu preocupações internacionais, especialmente entre aliados da Otan, da qual ambos os países fazem parte.
A Dinamarca, por sua vez, respondeu com firmeza. A primeira-ministra Mette Frederiksen reiterou que a Groenlândia não está à venda e elogiou a decisão dos Estados Unidos de limitar visitas oficiais à ilha, uma medida vista como tentativa de reduzir a pressão americana. “A Groenlândia pertence aos groenlandeses”, afirmou Frederiksen, destacando a soberania do povo local e a relação histórica com o reino dinamarquês. Essa troca de declarações marca um novo capítulo na disputa geopolítica que tem colocado os dois países em lados opostos.
Contexto Histórico e Estratégico
A ambição de Donald Trump em relação à Groenlândia não é novidade. Durante seu primeiro mandato, em 2019, o então presidente sugeriu comprar a ilha, uma ideia rejeitada como “absurda” pela Dinamarca. Agora, em seu segundo mandato, iniciado em janeiro de 2025, Trump elevou o tom, justificando o interesse com argumentos de segurança nacional e global. “Precisamos dela para a liberdade do mundo”, disse ele, apontando a localização estratégica da Groenlândia no Ártico, entre a América do Norte e a Europa, e sua proximidade com a Rússia.
A presença militar dos Estados Unidos na ilha já é significativa, com a Base Espacial Pituffik (antiga Base Aérea de Thule) operando desde a década de 1950 sob um acordo de defesa com a Dinamarca. Além disso, a Groenlândia abriga vastos recursos naturais, como minerais raros, petróleo e gás, que têm atraído o interesse de potências globais. Para Trump, controlar a ilha é uma questão de “segurança econômica e militar”, especialmente em um cenário de crescente influência chinesa e russa no Ártico.
Reação da Dinamarca e Medidas de Contenção
Em resposta às declarações de Trump, a Dinamarca adotou uma postura cautelosa, mas assertiva. Além de reforçar que a Groenlândia não está à venda, o governo dinamarquês anunciou investimentos de 14,6 bilhões de coroas (cerca de R$ 10 bilhões) em segurança no Ártico, incluindo novos navios, drones e cobertura por satélite. Essas medidas, divulgadas em janeiro de 2025, visam fortalecer a soberania na região e foram interpretadas como uma reação direta às pressões americanas.
Curiosamente, a Dinamarca saudou a decisão dos Estados Unidos de restringir visitas oficiais à Groenlândia, uma ação que, segundo analistas, reflete um esforço de Washington para evitar uma escalada imediata do conflito. “É um sinal de que os EUA estão dispostos a dialogar, mas não recuarão de seus interesses”, afirmou Ulrik Pram Gad, pesquisador do Instituto Dinamarquês de Estudos Internacionais. Enquanto isso, Frederiksen enfatizou a importância da cooperação com os Estados Unidos, um aliado histórico na Otan, mas deixou claro que a integridade territorial da Groenlândia é inegociável.
Posicionamento da Groenlândia e o Debate Interno
O primeiro-ministro da Groenlândia, Múte Egede, também se pronunciou sobre o tema. “Não queremos ser dinamarqueses, nem americanos, queremos ser groenlandeses”, declarou ele em uma coletiva de imprensa em março de 2025, ao lado de Frederiksen. Egede defendeu a autodeterminação do povo groenlandês, que, desde a Lei de Autogoverno de 2009, tem o direito de buscar a independência total da Dinamarca. No entanto, a ilha ainda depende de subsídios anuais de Copenhague, que representam cerca de 20% de seu PIB, o que torna a independência um desafio econômico.
Internamente, a população da Groenlândia, composta por cerca de 56 mil habitantes, majoritariamente inuítes, está dividida. Alguns, como o ativista Kuno Fencker, veem a pressão americana como uma oportunidade para negociar diretamente com os Estados Unidos, bypassing a Dinamarca. Outros, como a ex-ministra Maliina Abelsen, alertam para os riscos de perder a identidade cultural em meio a interesses externos. “A Groenlândia precisa ser reconhecida por seu passado para construir seu futuro”, disse Abelsen, referindo-se às cicatrizes deixadas pela colonização dinamarquesa.
Ameaças Econômicas e Militares de Trump
Durante seu discurso no Congresso em março de 2025, Donald Trump não descartou medidas drásticas para alcançar seu objetivo. “Vamos tomá-la de um jeito ou de outro”, afirmou, sugerindo a possibilidade de tarifas massivas contra a Dinamarca ou até o uso de força militar. Essa retórica alarmou autoridades europeias, que temem um precedente de “imperialismo” em pleno século XXI. O porta-voz do governo francês classificou a abordagem de Trump como “inaceitável”, enquanto o chanceler alemão Olaf Scholz defendeu a inviolabilidade das fronteiras.
Analistas apontam que as tarifas seriam uma arma poderosa, dado que os Estados Unidos importam produtos farmacêuticos cruciais da Dinamarca, como insulina e o medicamento Ozempic. Um aumento nos preços poderia gerar descontentamento interno nos EUA, mas Trump parece disposto a arriscar. Quanto à opção militar, especialistas consideram improvável, mas não impossível, já que os EUA já possuem uma presença significativa na Groenlândia. “Eles têm o controle de fato”, observou o professor Jacobsen, da Universidade de Copenhague, destacando a fragilidade da posição dinamarquesa.
Repercussão Internacional e o Papel da Otan
A escalada verbal de Trump gerou reações em todo o mundo. A União Europeia, por meio de sua porta-voz Anitta Hipper, reforçou que a soberania da Groenlândia está protegida pelo Tratado de Lisboa, que inclui cláusulas de defesa mútua. “As fronteiras não podem ser alteradas pela força”, declarou Hipper, em um recado indireto ao presidente americano. Enquanto isso, a visita de Donald Trump Jr. à capital Nuuk, em janeiro de 2025, alimentou especulações sobre uma estratégia familiar para pressionar a ilha.
Dentro da Otan, a situação é delicada. Os Estados Unidos e a Dinamarca são aliados de longa data, mas o interesse de Trump na Groenlândia ameaça abalar essa relação. “É uma questão de equilíbrio”, disse um diplomata europeu sob anonimato. “A Otan não pode se dar ao luxo de um racha interno, mas também não pode ignorar as ambições americanas.” Para muitos, a resolução dependerá da habilidade diplomática de Frederiksen e da pressão que a UE conseguir exercer sobre Washington.
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A disputa pela Groenlândia reflete um momento de inflexão nas relações entre os Estados Unidos e a Dinamarca. Com Donald Trump no comando, o tom beligerante e as ameaças econômicas sugerem que o presidente está disposto a testar os limites da diplomacia tradicional. Enquanto a Dinamarca busca proteger sua soberania e a Groenlândia luta por sua identidade, o mundo observa atentamente os próximos passos dessa saga geopolítica, que pode redefinir alianças e o equilíbrio de poder no Ártico.
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