Papa Leão XIV, em sua primeira coletiva, cita a encíclica Rerum Novarum de Leão XIII, ligando-a aos desafios da inteligência artificial e justiça social.
A escolha do nome por Papa Leão XIV
Em 8 de maio de 2025, o cardeal norte-americano Robert Francis Prevost foi eleito o novo papa, assumindo o nome Papa Leão XIV. Em sua primeira coletiva, realizada em 10 de maio, ele explicou a escolha do nome, inspirada em Papa Leão XIII, autor da histórica encíclica Rerum Novarum. Durante o discurso, transmitido em vídeo no YouTube pelo Vatican News, Leão XIV destacou que sua decisão reflete o desejo de enfrentar os desafios contemporâneos, especialmente os da inteligência artificial (IA), com a mesma coragem que Leão XIII demonstrou diante da Revolução Industrial. “Hoje, a Igreja oferece seu patrimônio de doutrina social para responder a outra revolução industrial e aos desenvolvimentos em inteligência artificial, envolvendo novos desafios para a defesa da dignidade humana, de justiça e trabalho”, afirmou.
A escolha do nome não é apenas simbólica. Prevost, que atuou por décadas junto a comunidades pobres no Peru antes de ser chamado ao Vaticano, sinaliza um pontificado focado em questões sociais, ecoando a missão de seu antecessor, Papa Francisco, e a visão de Leão XIII. A referência à Rerum Novarum, publicada em 1891, reforça a intenção de Leão XIV de atualizar a doutrina social da Igreja para abordar as transformações tecnológicas do século XXI, com a IA no centro do debate.
A Encíclica Rerum Novarum: Contexto e Princípios
A encíclica Rerum Novarum, publicada por Papa Leão XIII em 15 de maio de 1891, é considerada o documento inaugural da Doutrina Social da Igreja. Escrita em resposta às convulsões da Revolução Industrial, a encíclica abordou as condições desumanas enfrentadas pelos trabalhadores, criticando tanto o capitalismo selvagem quanto o socialismo marxista. Leão XIII defendeu a dignidade do trabalho, o direito à propriedade privada, a formação de sindicatos e a necessidade de um salário justo, estabelecendo princípios que continuam relevantes.
O documento, cujo título em latim significa “Das Coisas Novas”, foi uma carta aberta aos bispos, denunciando a exploração dos operários e a concentração de riqueza. Leão XIII destacou que “a usura voraz veio agravar ainda mais o mal”, referindo-se à ganância de poucos que submetia a maioria a condições de miséria. Ele propôs uma visão equilibrada, onde o Estado, a Igreja, os empregadores e os trabalhadores colaborassem para promover o bem comum, introduzindo o conceito de subsidiariedade – a ideia de que decisões devem ser tomadas no nível mais próximo das pessoas afetadas.
Impacto Histórico da Rerum Novarum
A encíclica marcou uma virada na relação da Igreja com o mundo moderno, inaugurando uma postura proativa diante dos problemas sociais. Antes da Rerum Novarum, a Igreja raramente abordava questões econômicas de forma sistemática. Leão XIII, que governou de 1878 a 1903, abriu caminho para o que hoje é conhecido como Doutrina Social da Igreja, influenciando legislações trabalhistas em vários países, incluindo a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) no Brasil.
O documento inspirou encíclicas posteriores, como *Quadragesimo Anno* (1931) de Pio XI, *Mater et Magistra* (1961) de João XXIII e *Centesimus Annus* (1991) de João Paulo II, que atualizaram seus ensinamentos. Além disso, a Rerum Novarum impulsionou a formação da Democracia Cristã, um movimento político que defendia valores cristãos na esfera pública. Sua crítica ao liberalismo econômico e ao socialismo ressoou em um mundo em transformação, oferecendo uma alternativa ética baseada na dignidade humana e na solidariedade.
Inteligência Artificial e a Nova Revolução Industrial
Na coletiva de 10 de maio, o Papa Leão XIV comparou os desafios da IA à Revolução Industrial enfrentada por Leão XIII. “Estamos diante de uma nova Revolução Industrial, marcada pelo avanço da inteligência artificial, que redefine as relações humanas e o trabalho”, declarou, segundo o Blog do Esmael. Ele alertou para os riscos de desumanização, como a substituição de trabalhadores por máquinas e o uso de armas autônomas, ecoando preocupações do Papa Francisco, que em 2024 pediu a proibição de sistemas letais sem intervenção humana.
A IA, segundo Leão XIV, apresenta oportunidades, como melhorar a eficiência em setores como saúde e educação, mas também perigos, incluindo a concentração de poder em gigantes tecnológicos e a erosão da dignidade do trabalho. Ele citou a necessidade de uma “algorética” – um desenvolvimento ético dos algoritmos – para garantir que a tecnologia sirva à humanidade, não a interesses econômicos. Essa visão alinha-se com a nota *Antiqua et Nova* do Vaticano, publicada em janeiro de 2025, que enfatiza a IA como um instrumento complementar à inteligência humana, nunca um substituto.
Trajetória de Robert Francis Prevost
Robert Francis Prevost, agora Papa Leão XIV, nasceu em 1955 em Chicago, EUA, e é o primeiro pontífice norte-americano. Membro da Ordem de Santo Agostinho, Prevost trabalhou por mais de 20 anos no Peru, servindo comunidades indígenas e pobres, antes de ser nomeado bispo de Chiclayo em 2001. Em 2023, foi chamado ao Vaticano por Papa Francisco para liderar o Dicastério para os Bispos, ganhando experiência na Cúria Romana. Sua eleição, no segundo dia do conclave com 133 cardeais, reflete a influência de Francisco, que nomeou a maioria dos eleitores.
A escolha de Prevost por Leão XIV surpreendeu alguns analistas, mas sua trajetória pastoral e compromisso com os marginalizados o alinham à visão de Francisco e Leão XIII. “O nome é um profundo sinal de compromisso com as questões sociais”, afirmou a teóloga Cristina Imperatori-Lee à RTP, destacando que a justiça social será uma prioridade em seu pontificado. Sua experiência no Peru e na Cúria o prepara para liderar a Igreja em um mundo marcado por polarização e avanços tecnológicos.
Inteligência Artificial e a Doutrina Social da Igreja
A preocupação com a IA não é nova no Vaticano. Papa Francisco, em discursos como o do G7 em 2024, alertou que a IA deve servir a humanidade, não enriquecer poucos. A nota *Antiqua et Nova*, aprovada por Francisco, reforça que a IA não deve substituir relações humanas ou ser divinizada, mas ser um instrumento ético. Leão XIV parece continuar essa linha, destacando os “novos desafios para a defesa da dignidade humana” no vídeo da coletiva.
A Doutrina Social da Igreja, iniciada pela Rerum Novarum, oferece um quadro ético para avaliar a IA. Princípios como o bem comum, a dignidade humana e a subsidiariedade podem guiar políticas sobre automação, privacidade de dados e uso militar da IA. Por exemplo, a encíclica criticava a concentração de riqueza, um problema atual com gigantes tecnológicos que dominam o mercado de IA. Leão XIV, ao evocar Leão XIII, posiciona a Igreja como uma voz moral nesse debate global.
Repercussão da Primeira Coletiva de Leão XIV
O vídeo da coletiva de Leão XIV, postado no YouTube pelo Vatican News, gerou ampla repercussão. Posts no X, como o de @RomaNewsOficial, destacaram a conexão entre a Rerum Novarum e a IA, com o papa apontando a tecnologia como um dos “principais desafios do mundo hoje”. A hashtag #LeaoXIV trending na plataforma, com usuários como @SaintParamaribo sugerindo que a escolha do nome indica um chamado para enfrentar a “revolução da inteligência artificial”. A imprensa, incluindo UOL e CNN Portugal, também destacou o simbolismo do nome e o foco em justiça social.
A referência à Rerum Novarum disparou o interesse pelo documento, com o Brasil 247 reportando um aumento nas buscas no Google Trends. O pronunciamento de Leão XIV foi visto como um sinal de continuidade com o legado de Francisco, que enfatizava a inclusão e a ética tecnológica, mas com uma abordagem própria, centrada na IA e no trabalho. A coletiva, realizada com os cardeais, reforçou a imagem de Leão XIV como um líder comprometido com a paz e a reconciliação, segundo o professor da Universidade Católica citado pela RTP.
Como Aplicar os Princípios da Rerum Novarum Hoje
Acesse aqui a Encíclica Rerum Novarum direto do vaticano.
Os ensinamentos da Rerum Novarum podem orientar indivíduos, empresas e governos diante dos desafios da IA. Algumas aplicações práticas incluem:
- Proteger o trabalho humano: Garantir que a automação não elimine empregos sem oferecer requalificação, como sugere o princípio do bem comum.
- Promover salários justos: As empresas de tecnologia devem pagar salários dignos, evitando a exploração de trabalhadores em cadeias globais de produção.
- Regular a IA eticamente: Governos podem adotar políticas baseadas na subsidiariedade, envolvendo comunidades locais no debate sobre tecnologia.
- Fomentar a solidariedade: Incentivar colaborações entre trabalhadores, empresas e Igreja para enfrentar desigualdades causadas pela IA.
- Educação sobre ética: Estudar a Rerum Novarum em escolas e seminários, como sugere o Vaticano, para formar líderes conscientes dos impactos da tecnologia.
Essas ações refletem a visão de Leão XIII e a intenção de Leão XIV de adaptar a doutrina social aos tempos modernos. O texto integral da encíclica, disponível no site do Vaticano, é uma ferramenta valiosa para quem deseja se aprofundar.
Papa leao 14, papa leao 13, papa, vaticano, novo papa, enciclica rerum novarum, inteligência artificial, doutrina social.